Intervenções desnecessárias no recém nascido

Atualmente sabemos que o que é procedimento de rotina com o recém nascido em hospitais não traz nenhum benefício, muito pelo contrário.

A primeira intervenção é a separação da mãe. Um bebê saudável deve ir direto para o colo da mãe, com o cordão ainda ligado, mesmo em caso de cesárea. Esses primeiros instantes são cruciais para o vínculo, imunidade do bebê e sucesso na amamentação. As primeiras avaliações do pediatra podem ser feitas com o bebê ali, no corpo nu de sua mãe. É recomendado cobrir o bebê com um paninho, principalmente na cabeça (ou uma touca), pois o bebê estava num ambiente mais quente que o ambiente externo e é pela cabeça a maior perda de calor.

É o momento da golden hour. Ali o bebê se aconchega no colo, sente o cheiro, entra em contato com as bactérias benéficas do corpo da mãe e pode iniciar a amamentação, se instintivamente procurar o seio. Esse é o primeiro encontro de uma paixão avassaladora. A última coisa que deveria existir é pressa.

O banho pode e deve esperar. O vérnix, substância branca na pele do bebê é uma poderosa barreira protetora e hidratante. Tão poderosa que a indústria cosmética estuda suas propriedades. Definitivamente esfregar e lavar o bebê assim que ele nasce não é uma boa ideia.

Além disso, pinga-se colírio de nitrato de prata de forma sistêmica. Ele é extremamente ardido, irrita e pode causar conjuntivite química. Tudo isso para prevenir contaminação por gonorréia e clamídia na passagem pelo canal vaginal. Agora, se a mãe tem exames negativos para essas bactérias, ou então, o bebê nasceu de cesárea, qual a necessidade de submeter o bebê a isso?!

Junto com o colírio, vem a aspiração das vias aéreas para sugar o líquido amniótico. Na maioria das vezes a aspiração é desnecessária, pois esse liquido é absorvido e expelido de forma fisiológica. Esse procedimento é doloroso e incômodo em adultos, imagina em recém nascidos que muitas vezes passam por ele de forma grosseira. A primeira experiência oral desse bebê foi traumática, não é de se surpreender que ele rejeite o seio por instinto de defesa nas primeiras tentativas da amamentação.

Depois desse bebê ser separado de sua mãe, ser privado de cerca de 30% do seu sangue pelo corte precoce do cordão, ser esfregado perdendo sua proteção natural da pele, ter os olhos ardendo e as vias aéreas doloridas, levam esse bebê para um berçário, onde muitas vezes ele fica chorando perdido e confuso no meio de outros bebês e só vai conhecer sua mãe no dia seguinte. Não existe lógica em berçários. Os bebês saudáveis devem ficar com suas mães em alojamento conjunto até a alta de ambos. Em todos os países onde a assistência ao parto é referência, esse conceito de berçário que vemos aqui nas maternidades particulares não existe. Há muito tempo já se provou não ser eficaz e ainda aumenta o risco de infecção.

Parece trágico, não? Mas é. E acontece todo dia.

Com muita informação, é possível questionar e exigir um tratamento respeitoso a esse bebê que acabou de nascer e na maioria das vezes só precisa do colo da mãe.

Por menos intervenções e mais vínculo.

A humanidade agradece.